Alquimia e Astrologia: Solve et Coagula na Magia de Manifestação
A Alquimia, uma prática antiga que atravessa culturas e eras, sempre fascinou com seus processos de transformação, tanto do mundo material quanto do espiritual. Um dos conceitos centrais nessa prática é o Solve et Coagula, traduzido como "dissolver e coagular". Este princípio não apenas guia as operações alquímicas, mas também serve como uma metáfora para o funcionamento do universo e da alma humana. Neste artigo, exploraremos a visão de Paracelso sobre Solve et Coagula, reverberações do conceito na Astrologia e aplicações para Magia de Manifestação.
Paracelso e o Conceito de Solve et Coagula
Paracelso, um dos alquimistas mais influentes do Renascimento, revolucionou a prática alquímica e médica com suas ideias. Ele via o Solve et Coagula como um processo essencial para a transformação de substâncias e do espírito. Para Paracelso, todos os processos de transformação envolvem a dissolução de elementos em seus componentes fundamentais (solve), seguido pela recombinação para criar uma nova substância ou estado (coagula).
Esta operação é vista não apenas como uma práxis concreta, mas também como um processo espiritual, conduzindo à expressão de sua Verdadeira Natureza e da sua Magnum Opus. Sem destruição criativa, não há espaço nem fertilidade para o nascimento do novo. Não é à toa que a Lua cresce e míngua todo mês.
Paracelso acreditava, ainda, nos Tria Prima (Três Princípios): Enxofre, Mercúrio e Sal, que representavam o espírito, a mente e o corpo, respectivamente. Esses princípios deveriam ser decompostos e recombinados para alcançar a verdadeira essência das substâncias e dos seres humanos.
Espagiria: Solve et Coagula na prática
A espagiria, uma aplicação prática dos princípios alquímicos, é a arte da preparação de elixires alquímicos. O termo deriva das palavras gregas "spao" (separar) e "ageiro" (reunir), refletindo o método usado para criar remédios através da separação, purificação e recombinação de componentes. Solve et Coagula. Paracelso foi um dos primeiros a utilizar a espagiria na medicina, vendo nela uma maneira de extrair e purificar as essências curativas das plantas e minerais.
A preparação de um elixir espagírico envolve três etapas principais: destilação, calcinação e recombinação. Durante a destilação, os componentes voláteis, como óleos essenciais, são separados. A calcinação envolve a queima dos resíduos para obter sais minerais purificados.
Finalmente, na recombinação, esses componentes são unidos para formar um medicamento mais potente e purificado. Este processo exemplifica perfeitamente o Solve et Coagula, onde os elementos são separados e depois reunidos para criar algo novo e mais eficaz.
Manfred Junius, em sua obra sobre espagiria, menciona a importância de empregar técnicas de timing astrológico para criar espagíricos realmente potentes. Uma Prima Materia da natureza de Mercúrio deve ser manipulada quando seu regente estiver bem posicionado, durante seu dia e hora. Assim concatenadas, a Magia, Alquimia e Astrologia permitem efeitos muito únicos por meio de seu relacionamento sinérgico.
A prática da espagiria moderna vai além dos remédios físicos, abrangendo também a criação de elixires destinados a facilitar a transformação espiritual e emocional.
Solve et Coagula na Astrologia e na Natureza
A natureza manifesta constantemente o ciclo de Solve et Coagula. Tudo o que é vivo um dia morre, desintegra-se e de suas cinzas novas formas de vida emergem. Até mesmo o que é inanimado, como rochas, está em constante transmutação, transformando-se em sais minerais e depois em novos depósitos. Esse ciclo é uma constante em nosso universo e também se reflete na Astrologia e na Magia.
Como acima, assim abaixo, como dentro, assim fora, como no Universo, assim na alma. Se a natureza funciona dessa maneira, é porque ela reflete as forças arquetípicas que regem nossa realidade, das quais os astros nos céus são corporificações.
As Correspondências Alquímicas e Astrológicas dos Planetas
A esfera mais próxima da nossa é a Lua. Como já mencionado, ela tem fases, além de uma velocidade variável. Responsável por transmitir ao nosso reino sublunar os raios das Esferas acima, ela cuida de toda a criação e destruição no nosso plano terreno. A Mãe de Tudo, ela corpirifica toda a nuance e a polaridade de Solve et Coagula. Seu metal na Alquimia é a prata.
Mercúrio, em seguida, é o catalisador das reações alquímicas, fazendo a ponte entre a Terra e o Céu. Patrono da Alquimia, ele representa o Espírito que conecta a alma (enxofre) ao corpo (sal). Isso é reflexo de sua natureza dual. Por exemplo: é o único dos planetas que não é apenas diurno ou noturno, sendo diurno quando estrela da manhã e noturno quando estrela da noite. É ele quem conduz o processo de Solve et Coagula. Seu metal é o mercúrio.
Vênus, a Benéfica Menor, corporifica o aspecto conciliador da coagulação. Noturna e úmida, tem afinidade com o princípio receptivo - é, afinal, atraente a tudo. Senhora da união carnal, ela facilita a combinação harmônica de elementos já refinados em processos de Solve. Seu metal na Alquimia é o cobre.
O Sol representa o ouro, criado pelo alquimista a partir do chumbo. Isso é uma metáfora para a verdadeira essência, para o Guardião que vela pelos seus passos e guarda seu Destino. O estado de Iluminação que é o objetivo final do processo Solve et Coagula.
Marte, o Maléfico Menor, traz o fogo da calcinação que purifica e eleva. Ambos os Maléficos representam separação, ou Solve - Marte, pelo corte. É pela virtude marcial que os elementos são separados da impureza, permitindo-lhes se expressarem numa outra oitava. É, ainda, o fogo de Ares que fornece a energia para que ocorram as transformações alquímicas. Seco em temperamento, seu metal na Alquimia é o ferro.
Júpiter, o Benéfico Maior, é aglutinador e expansivo, representando o aspecto diurno do princípio Coagula. É ele quem faz o total ser maior do que a soma das partes, aproveitando sinergias em benefício do crescimento. Seu metal na Alquimia é o estanho.
Saturno, o Maléfico Maior, seco e frio, representa o aspecto diurno de Solve, separando, no seu caso, por meio de barreiras - como filtros. Ele também corporifica os resíduos das operações alquímicas - o conceito de Caput Mortuum é um exemplo interessante disso.
Caput Mortuum e Saturno: O Símbolo do Fim e da Purificação
Na Alquimia, o termo Caput Mortuum, ou "cabeça morta", representa o resíduo que resta após a destilação ou sublimação de uma substância. Este resíduo é considerado inerte e sem valor, simbolizando aquilo que não pode mais ser transformado ou purificado.
Tradicionalmente, o Caput Mortuum é associado à figura de uma caveira ou uma cabeça decapitada, simbolizando o fim de um ciclo e o descarte do que é inútil. Este conceito é ligado à ideia de morte e renascimento, onde é necessário deixar para trás o que não serve mais para dar lugar ao novo.
Na prática da Magia, Caput Mortuum também pode representar os aspectos de nossa vida ou de nós mesmos que devem ser transmutados para a obtenção de nossos desejos e a conquista da Magnum Opus.
Saturno, com suas associações tradicionais ao tempo, limitação e disciplina, é frequentemente vinculado ao conceito de Caput Mortuum. Afinal, o Maléfico também dispõe sobre a morte, a putrefação e a purificação. O titã que devorou até seus filhos, ele nos lembra que tudo é finito e um dia deixa de ser - ao menos, naquela forma - Memento Mori.
Solve et Coagula na prática da Magia
Muito se fala nos aspectos Coagula da Magia: objetos sagrados, oferendas, procedimentos rituais. E eles são importantes. Mas, sem a depuração prévia, seus efeitos ficam limitados, na melhor das hipóteses.
Isso porque a sombra do inconsciente se ressente de ser contrariada. Se houver algo no ponto cego da psique do magista que se oponha ao objetivo de seus trabalhos, duas coisas podem acontecer. A primeira é resultados inferiores e parciais. Frustrante, não é? A segunda é conseguir o objeto de seu desejo, mas a um preço indesejável. Normalmente, isso acontece quando o magista começa a tentar forçar a manifestação de um objetivo.
Liberando os bloqueios: Solve
O melhor momento para fazermos trabalhos de Solve é quando a vida nos apresenta uma sequência de obstáculos. Quando tudo dá errado e nos sentimos sem saída. É chegada, então, a hora de seguir os passos de Orfeu e Dante - de se embrenhar nas vísceras cavernosas da sombra.
Manifestando seus Desejos: Coagula
E para prosseguir com atividades de Coagula, um bom caminho é a exploração das correspondências entre Alquimia, Astrologia e Magia. Esta abordagem viabiliza uma prática mágica de acordo com a nossa Verdadeira Natureza, potencializando assim nossos resultados mágicos.
A Parte está contida no Todo e o Todo está contido na Parte. Tudo aquilo que existe contém os princípios de Solve et Coagula. A Polaridade a tudo permeia. A verdadeira gnose do Alquimista é dissolver e coagular de maneira dosada e rítmica, em sincronia com a dança arquetípica que os Astros espelham. Com conhecimento de si e do Universo, é possível destilar a maestria: o elixir da Eudaimonia.
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